sábado, 29 de agosto de 2009

Nas tuas mãos



Em remoinho nascente,
excitação perene,
tensão máxima,
suspenso no tempo de um olhar,
de um gesto,
de olhos que se cruzam,
do esboço de um sorriso entre a vitória e a espada.

Lampejo,
aquietação,
súbita incandescência compassada,
inesperada,
fulgurante.

E a mudança outra vez,
consequência imprevisível,
manutenção de estado,
soberania afirmada.

Permanecendo enfim
o corpo cesa de lutar
então,
só então,
acontece
o luar.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O corpo, Sol Maior



Deitado
À beira-mar, e a água.
O corpo da água.
Sem arestas,
simples e claro.

O sol
por dentro
é como um sino.
Suave, redondo.
O corpo,
Sol Maior.

Um menino que brinca
com o limo verde,
com um riso aquático,
uma graça sem tino,
só por brincar e rir
e ser feliz.

Peixes de alva
rodam transparentes,
e roda a menina
a dança de roda:

"Estava eu cozendo
no meu laranjal
minha agulha de oiro
meu dedal de prata..."

(E a avó que cantava)
"Veio um cavaleiro
a pedir pousada..."

...Menina perdida,
menina enganada.
Menina sofrida,
menina sonhada.

Quem me quis menina
que já me matava,
quem me leu a sina
muito se enganava.

E agora por fim,
menina de mim,
vestida de novo
como a madrugada.

Era Ela-menina e brincava de moça...



Era Ela-menina e brincava de moça, os seios nascendo; era Ela-moça e sorria sonhando Ela-mulher, as mãos em seus seios, as mãos no seu ventre, os dedos esguios descendo ao seu sexo; era Ela-sózinha com gestos de brisa percorrendo-se a si. Ela ensaiando os gestos dele, a boca gemendo, as costas arqueando, as mãos se torcendo, as pernas se abrindo.


No quente do sexo lateja a sua flor, Ela pulsa e contorce-se, a mão se afundando, movendo compassada, primeiro lenta, depois aceleradamente. A respiração entrecortada mistura-se com a respiração adivinhada dele, as pernas enlaçam-lhe a mão molhada de desejo, sente-o se afundando, senhor em si. Pensa-lhe o corpo e beija-o, a língua molhada que lhe lambe a boca, lhe desce pelo peito ao âmago delicioso das suas pernas detém-se por fim no sexo duro que abocanha sôfrega, com deleite e prazer. As mãos dela excitam-no, que caminhos percorrem agora aqueles dedos pensando nele?


Os dedos dela são viajantes experientes, conhecem-lhe os segredos, penetram longamente para voltarem à luz molhados e quentes. Ela mete-os na boca e rodeia-os com os lábios, assim faria a Ele, contornaria depois o perímetro do seu sexo até que ele imperioso a tomasse, como égua se dando, ou como mulher-menina. A rosa dela está agora palpitante, que Ele derrame seu sémen sobre a rosa, que o dê à sede dela cujos lábios os esperam. Cujos muitos lábios o esperam.

Domingo respiravam-se flores


Domingo, lá fora, respiravam-se flores.
Flores aladas, da cor da Primavera!

Amor




Ele recolhe-se nessa alma feminina

e é lá que encontra o conforto para o seu corpo,

a paz para o seu ser inteiro,

pois o seu corpo inteiro é ávido do amor dela,

da pele dela, que arde pelos seus póros húmidos e colados.


Aos dele neste momento

em que um só corpo vibra em dois

para de súbito se abrandarem os movimentos

para que a sua língua sedenta percorra toda a geografia do seu corpo

e possa aportar serena e macia em meio aos lábios dela,

que suavemente se abrem para o percorrer minucioso e ardente que agora sai da sua boca.


E enquanto ela tremia, como se de febre padecesse,

e se contorcia em meio a lençóis de luz,

seu ritmo foi acelerando e num grito gemido pulsou por ele,

chorou e riu por ele,

até se esvair para o lado com um tom sereno e alvo

contemplativo...

Fascinação.

Beijo.

Vejo-te


Vejo-te distante, de perfil, pensativo, com a luz a escorrer pelo teu corpo e a desenhar-lhe os contornos como uma insinuação.
Vejo-te forte e frágil, homem e menino, amante e irmão.
Como um anjo me apareces, como a face amante de Deus.
Como um homem me envolves no voo do sentir.
Como um homem me constróis e adivinhas, na nudez da minha alma e do meu corpo.
Teu nome, é o som de um sussurro ao ouvido, um murmúrio no silêncio da noite. O silêncio que antecede o abraço e a música.
Amar é o segredo, a fonte dos amantes, o sagrado no templo do corpo, na pele e no calor do corpo, nos acordes da noite, no enlace da música.
Vejo-te à noite, no silêncio da noite, o teu corpo deitado, agora adormecido, os teus olhos fixos no escuro, tua mente que passeia leve antes que te leve o sono, a vida que te faz vibrar e também me alimenta.
O que procuras tu? E o que procuras com esse que és?
Em ti te tens assim tendo.
A mulher é o côncavo da alma, do sexo, da palavra.
A mulher é o côncavo onde te acolhes.
A mulher que penetras e envolves.
A mulher é o sagrado em ti que te recolhes nela, com o teu ser, e o teu sexo.
E a vida, pulsando em cada um de nós.

Mais que o meu sonho és

Não te sabia
já te sonhava
te desejava.
Agora te sei
mais que o meu sonho
és.
E mais
te desejo e quero.